quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


Ilha dos amores

Pegou a mala. Chamou um táxi e se dirigiu para o aeroporto. Queria sumir por uns dias. Conseguira ainda uma passagem para uma ilha. O nome a intrigou. Chamava-se ilha dos amores. Esperava que algo de especial a acontecesse. Algumas  horas de viagem e ela já estaria longe de tudo e de todos. Ansiava por rostos novos, paisagem nova, novos ares e sabe-se lá Deus o que mais. Não avisara a ninguém. Queria mesmo era viver algo novo.
Letícia chegou à ilha por volta das quinze horas da tarde. Hospedou-se em um hotelzinho aconchegante. Todo trabalhado na madeira, com alpendre com duas ou três redes armadas. Uma delas estava ocupada. Alguém nela aproveitava o zéfiro que passava. Procurou não fazer muito barulho para não atrapalhar, seja lá quem estivesse ali. Atravessou o alpendre, acompanhada de um gentil senhor que levava sua mala e mostrava-lhe o caminho do quarto, que ela ficaria por quantos dias desejasse.  Mal sabia ela que aquele lugar a faria tão bem, mas que guardava surpresas que faria qualquer um duvidar.
A moça de cabelos castanhos e olhar tão doce quanto mel, também puderam seus olhos eram da cor de mel, passou pela encantadora sala do hotelzinho olhando os mínimos detalhes daquele ambiente que durante alguns dias seria sua morada. Havia duas poltronas em volta de uma mesinha com um belíssimo jarro de rosas vermelhas e brancas. Algumas revistas e um jornal local. Uma pequena recepção onde se encontrava uma senhora de aparência amigável e encantadora. Sob o teto um lustre que condizia com o ambiente. Dois belíssimos quadros, em um deles havia a gravura de um cavalo. O mais belo que já vira. No outro, a imagem de um campo que dava para uma floresta, por sinal bela floresta. E mais a frente uma escada de madeira que dava para os quartos e um pouco ao lado da escada uma portinha que provavelmente levava ao refeitório.
Letícia analisava tudo com um sorriso enorme estampado no rosto. Ainda parada esperava a chave de seu quarto que o gentil senhor havia ido pegar na recepção. Estava tão embriagada de felicidade que não ouviu quando o senhor a chamou para irem ao quarto. Ele aproximou-se da moça e tocou-lhe o braço chamando-a novamente. Ela desculpa-se e o segue. Percorre um corredor repleto de portas com uma enumeração para identificá-los. Eis que chegam ao quarto da moça. O quarto de número 13. A princípio não gostou muito do número. Lembrou-se da superstição em relação ao número. Mas certa vez ouvira que de duas uma; ou dava sorte ou azar. Preferiu ela crer que tal número a traria muito sorte, então não objetou contra o quarto e entrou com muito gosto. Nada poderia tirá-la daquele estado de puro deleite nem mesmo uma superstiçãozinha qualquer. O quarto era o mais simples e mais lindo e aconchegante que já entrara. Analisou-o por um momento e pôs logo a se jogar na cama sem tempo nem mesmo de esperar o senhor a sair.
No rosto do gentil senhor brotou um risinho de satisfação e de seus lábios saíram algumas palavrinhas.
– Irá gostar ainda mais, moça! Boa estadia. Precisando, estou às ordens.
– Não tenho dúvidas, Sr. ...?
– Óh, perdão! José. Chamo-me José.
– Muito prazer, senhor José. Chamo-me Letícia.
– És a alegria em pessoa.
– Como?!
– O significado do seu nome condiz com a pessoa que és.
– Ah sim! Obrigada. Muito gentil de sua parte.

.
.
Continua...
Quer mais?

A.R.MORAES 

COMO UM ROMANCE

Foi num desses dias chatos, que por incrível que parece, percebi que o mesmo amor que tinha antes pela leitura ainda continua. E agradeço por isso. Tive que ir assistir uma aula que seria ministrada pela professora Angélica. Devo confessar que só fiquei para assisti-la porque sabia que seria ela. É impressionante como ela sabe ler. Digo: saber ler não é reconhecer as palavras grafadas. Saber ler é envolver. É sentir as palavras, é deixar-se levar por elas seja lá para onde elas te queiram levar.  E minha professora sabia fazer isso muito bem. Ainda consigo me ver sentada naquela carteira com os olhos fitos nos lábios de minha professora. Segurava meu queixo. Era provável que se não fizesse isso, minha boca ficaria aberta. É tão prazeroso ouvi-la ler. Creio que qualquer livro, qualquer texto lido por ela, sendo chato ou não, torna-se agradabilíssimo quando declamados por seus lábios.
Enquanto ela falava da disciplina, notei que segurava um livro aberto em alguma página que ela marcava com um dos dedos de sua mão. Ela não esperou que perguntássemos o porquê daquilo. Logo começou a explicar. Ela havia planejado começar a ler para nós a partir da primeira página como é de costume por quase todos. Porém ela começou a explicar por que passaria a ler daquela página. Falou-nos que certa vez, há muito tempo, assistira a um filme e uma cena a chamou bastante atenção. Uma personagem, ao ir devolver um livro para o bibliotecário, deixou-o cair. O livro caíra aberto no chão e ela de imediato pôs a apanhá-lo e quando já o ia fechar o bibliotecário interviu e disse-lhe para nunca rejeitar o que um livro tinha para lhe dizer. Achei isso um máximo. Por vezes isso acontece comigo e por muitas vezes ignorei o que alguns livros tinham para me dizer. Por causa dessa cena, ela passou a nunca mais ignorar quando um livro se abria em determinada página. Por isso ela leu exatamente o que estava escrito na página guardada por seus dedos. E de fato aquele livro tinha algo a nos dizer. Fora as palavras mais lindas que ouvi. Deixou-me com um desejo tão grande de lê-lo por completo e de imediato. Quis tanto desvendar tudo que estava ali naquelas páginas só aguardando alguém que fosse ousado o suficiente para abri-lo e ouvir o que estava guardado naquelas folhas. Como um romance era seu nome. E como um romance, desejei vivenciá-lo.  

A.R.MORAES