quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Roncador


Foi numa dessas viagens intermináveis de Teresina a Fortaleza que me lembrei de um texto de Antonio Prata. Em seu texto, ele denominava os ônibus de prisão e, com efeito, concordo com ele.  Chega a ser impressionante o fato de passarmos horas dentro de um ônibus e às vezes sem nada a fazer. Ainda mais quando a viagem é durante a noite. Ai você me diz, caro leitor, e porque não dorme? E eu prontamente respondo que o fato de estar posicionado na poltrona de numero quarenta, próximo ao banheiro e de ter como companhia uma criatura que passa a viagem toda roncando não ajuda muito. O indivíduo do meu lado me causou espanto. Por vezes quis acordá-lo, pensei que ele estava morrendo engasgado, mas na verdade ele estava se morfoseando em todos os animais que produzem sons assustadores; bem como um porco enraivecido pedindo comida ou ainda uma onça feroz que produz o som mais assustador que se possa imaginar. Ou ainda, leitor, o som que tu estás imaginando e que eu, infelizmente, não posso descrever.  Digamos que nada me foi favorável a aproveitar a viagem dormindo e como era noite não tive a oportunidade de ir lendo (coisa que gosto de fazer quando estou em viagem) e para completar a dose, tristemente esqueci os fones de ouvido e não pude ouvir umas boas músicas, sons que me fariam bem, é claro. A sorte é que, demorou, mas ele saiu e eu continuei. Graças ao bom Deus, estou aqui relatando este episodio que me foi desagradável. A parte boa nisso tudo é que fiquei com duas poltronas à disposição e o dia já começava a raiar quando pude ver um dos mais belos espetáculos que Deus nos proporciona; os primeiros raios do sol cortando as nuvens negras. O silêncio, a calmaria e o passar do tempo diante dos meus olhos, pois os demais que estavam no ônibus nada viam, apenas em seus sonhos e sabe se lá o que eles estavam sonhando. Fiquei contente de o homem não ter morrido engasgado, mas confesso que ainda posso ouvir o roncar dele (Ops! Agora é outro da poltrona da frente substituindo o que se retirara.). Fiquei parte da viagem identificando as metamorfoses pelas quais o cidadão passava. Ora era um porco, podia-se notar com perfeição e  eu até suspeitei que alguém estava transportando um, mas isso era praticamente impossível ainda mais junto com os passageiros. Ora parecia que um sapo iria saltar da boca dele; pude identificar uma vaca mugindo, um cachorro rosnando e até uma galinha cacarejando. Parece absurdo e exagerado, mas pra quem estava com sono e era impossibilitado de dormir ou de fazer algo agradável não restava outra coisa a não ser perceber a afinidade dos sons emitidos por aquele ser de Deus com as demais criaturas do mesmo bondoso Pai.
A.R.MORAES