quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


Ilha dos amores

Pegou a mala. Chamou um táxi e se dirigiu para o aeroporto. Queria sumir por uns dias. Conseguira ainda uma passagem para uma ilha. O nome a intrigou. Chamava-se ilha dos amores. Esperava que algo de especial a acontecesse. Algumas  horas de viagem e ela já estaria longe de tudo e de todos. Ansiava por rostos novos, paisagem nova, novos ares e sabe-se lá Deus o que mais. Não avisara a ninguém. Queria mesmo era viver algo novo.
Letícia chegou à ilha por volta das quinze horas da tarde. Hospedou-se em um hotelzinho aconchegante. Todo trabalhado na madeira, com alpendre com duas ou três redes armadas. Uma delas estava ocupada. Alguém nela aproveitava o zéfiro que passava. Procurou não fazer muito barulho para não atrapalhar, seja lá quem estivesse ali. Atravessou o alpendre, acompanhada de um gentil senhor que levava sua mala e mostrava-lhe o caminho do quarto, que ela ficaria por quantos dias desejasse.  Mal sabia ela que aquele lugar a faria tão bem, mas que guardava surpresas que faria qualquer um duvidar.
A moça de cabelos castanhos e olhar tão doce quanto mel, também puderam seus olhos eram da cor de mel, passou pela encantadora sala do hotelzinho olhando os mínimos detalhes daquele ambiente que durante alguns dias seria sua morada. Havia duas poltronas em volta de uma mesinha com um belíssimo jarro de rosas vermelhas e brancas. Algumas revistas e um jornal local. Uma pequena recepção onde se encontrava uma senhora de aparência amigável e encantadora. Sob o teto um lustre que condizia com o ambiente. Dois belíssimos quadros, em um deles havia a gravura de um cavalo. O mais belo que já vira. No outro, a imagem de um campo que dava para uma floresta, por sinal bela floresta. E mais a frente uma escada de madeira que dava para os quartos e um pouco ao lado da escada uma portinha que provavelmente levava ao refeitório.
Letícia analisava tudo com um sorriso enorme estampado no rosto. Ainda parada esperava a chave de seu quarto que o gentil senhor havia ido pegar na recepção. Estava tão embriagada de felicidade que não ouviu quando o senhor a chamou para irem ao quarto. Ele aproximou-se da moça e tocou-lhe o braço chamando-a novamente. Ela desculpa-se e o segue. Percorre um corredor repleto de portas com uma enumeração para identificá-los. Eis que chegam ao quarto da moça. O quarto de número 13. A princípio não gostou muito do número. Lembrou-se da superstição em relação ao número. Mas certa vez ouvira que de duas uma; ou dava sorte ou azar. Preferiu ela crer que tal número a traria muito sorte, então não objetou contra o quarto e entrou com muito gosto. Nada poderia tirá-la daquele estado de puro deleite nem mesmo uma superstiçãozinha qualquer. O quarto era o mais simples e mais lindo e aconchegante que já entrara. Analisou-o por um momento e pôs logo a se jogar na cama sem tempo nem mesmo de esperar o senhor a sair.
No rosto do gentil senhor brotou um risinho de satisfação e de seus lábios saíram algumas palavrinhas.
– Irá gostar ainda mais, moça! Boa estadia. Precisando, estou às ordens.
– Não tenho dúvidas, Sr. ...?
– Óh, perdão! José. Chamo-me José.
– Muito prazer, senhor José. Chamo-me Letícia.
– És a alegria em pessoa.
– Como?!
– O significado do seu nome condiz com a pessoa que és.
– Ah sim! Obrigada. Muito gentil de sua parte.

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Continua...
Quer mais?

A.R.MORAES 

COMO UM ROMANCE

Foi num desses dias chatos, que por incrível que parece, percebi que o mesmo amor que tinha antes pela leitura ainda continua. E agradeço por isso. Tive que ir assistir uma aula que seria ministrada pela professora Angélica. Devo confessar que só fiquei para assisti-la porque sabia que seria ela. É impressionante como ela sabe ler. Digo: saber ler não é reconhecer as palavras grafadas. Saber ler é envolver. É sentir as palavras, é deixar-se levar por elas seja lá para onde elas te queiram levar.  E minha professora sabia fazer isso muito bem. Ainda consigo me ver sentada naquela carteira com os olhos fitos nos lábios de minha professora. Segurava meu queixo. Era provável que se não fizesse isso, minha boca ficaria aberta. É tão prazeroso ouvi-la ler. Creio que qualquer livro, qualquer texto lido por ela, sendo chato ou não, torna-se agradabilíssimo quando declamados por seus lábios.
Enquanto ela falava da disciplina, notei que segurava um livro aberto em alguma página que ela marcava com um dos dedos de sua mão. Ela não esperou que perguntássemos o porquê daquilo. Logo começou a explicar. Ela havia planejado começar a ler para nós a partir da primeira página como é de costume por quase todos. Porém ela começou a explicar por que passaria a ler daquela página. Falou-nos que certa vez, há muito tempo, assistira a um filme e uma cena a chamou bastante atenção. Uma personagem, ao ir devolver um livro para o bibliotecário, deixou-o cair. O livro caíra aberto no chão e ela de imediato pôs a apanhá-lo e quando já o ia fechar o bibliotecário interviu e disse-lhe para nunca rejeitar o que um livro tinha para lhe dizer. Achei isso um máximo. Por vezes isso acontece comigo e por muitas vezes ignorei o que alguns livros tinham para me dizer. Por causa dessa cena, ela passou a nunca mais ignorar quando um livro se abria em determinada página. Por isso ela leu exatamente o que estava escrito na página guardada por seus dedos. E de fato aquele livro tinha algo a nos dizer. Fora as palavras mais lindas que ouvi. Deixou-me com um desejo tão grande de lê-lo por completo e de imediato. Quis tanto desvendar tudo que estava ali naquelas páginas só aguardando alguém que fosse ousado o suficiente para abri-lo e ouvir o que estava guardado naquelas folhas. Como um romance era seu nome. E como um romance, desejei vivenciá-lo.  

A.R.MORAES

segunda-feira, 21 de maio de 2012


Folhas caídas

Se uma flor no chão está a cair
É por conta da vida que já lhe veio o fim.
Se uma moça está a chorar
É por conta do moço que está a deixar.

Tanto a folha quanto o coração da moça
No chão vão parar, por conta do amor que lhes fora deixar.
A vida é para a folha o amor,
O moço é para a moça a vida.

Vida e amor é uma coisa só
Se lhes tiram a vida, tiram-lhes o amor.
Se lhes tiram o amor, tiram-lhes a vida.

Tal moça e tal flor
A vida lhes fora tirada.
Ficam ambas sem o amor
Sem vida e apenas a elas sobraram a dor.

A.R.MORAES


Eu e o Vento


O vento sopra meu rosto, lembrando-me a solidão.
Chega a zombar, diz que só a ela tenho.
Ingrato o chamo – como podes maltratar-me, eu que tanto o amo?

Ele zangado sopra mais forte. Diz que ingrata sou eu
Que ao menos a ela tenho.
Mas e ele? Também o tenho. És o único que vem meu cabelo cheirar.
Balança-o e faz meu corpo arrepiar.

Sopra meu rosto, às vezes bravo, às vezes manso.
Quando bravo, é ciúmes.
Quando manso, é amante.
Como podes ora ser um, ora ser outro?

Quando se ama não é só mansidão?
Vejo que a esse assunto nada compreendo.
Só compreendo a minha velha companheira, a solidão.
Ela que arrasa, mas que a mim também consola. E o vento mais uma vez vem e me diz:
Ao menos a ela tem.

terça-feira, 15 de maio de 2012


Alma de Esfinge


Indecifrável, assim eu sou.
Coração impenetrável
Como fora Tebas na presença da Esfinge.
Interrogo-me se um dia há de vir um Édipo para decifrar-me.

Se sim, que não demore,
Pois o tempo passa e não espera.
O tempo cruel deixa marcas, registra sua passagem,
Não se preocupa com os danos.

Só um Édipo há de me decifrar
Os que por aqui passaram, devorei-os todos.
A mim não souberam decifrar.

Não tardes! Vem decifrar-me, vem meu coração entender.
E assim fará a mim, também, compreender que não sou tal monstro
incapaz de amar antes de morrer.


A.R.MORAES

quinta-feira, 3 de maio de 2012


Noitadas de farinhada

Hoje amanheci exaltando minha adorada infância, que os tempos não trazem mais. O vento frio soprou em meu rosto me fazendo lembrar coisas que me aconteciam quando ainda vivia com minha amada mãe. Não sei por que cargas d’água, lembrei as farinhadas de minha infância. Quase todo mundo tinha uma casa de farinha. E as casas de farinhas eram o nosso teatro, nosso cinema, nosso parque de diversões, nosso circo... Quando a mãe anunciava: “Hoje começa a farinhada de fulano!”, todos corriam e pegavam uma faquinha ou uma “facona” e direcionavam-se à casa de farinha. A vizinhança toda se fazia presente, embora fosse pouca a mandioca a ser transformada em farinha. Enquanto alguns raspavam a mandioca, outros lavavam, serravam, imprensavam, retiravam a goma, torravam, faziam beju, outros ficavam a entreter-se e a entreter os que estavam trabalhando com conversas, seja lá sobre que assunto fosse e a garotada ora ficavam a ouvir, ora ajudava, ou então estava a brincar, do lado de fora da casa, de cabra-sega, esconde, caí no poço, ciranda, guerra e tantas outras brincadeiras que não me saem da memória. Eu gostava de brincar é claro, mas o que mais me agradava era ouvir aquelas conversas de adulto: piadas, “falanças” da vida alheia, ou da vida dos presentes mesmo. Tinha aqueles ousados que contavam histórias sobrenaturais de almas, lobisomens e tantos outros seres que eu nunca vi, mas eles sim e narravam a história toda, onde, quando e como tinha acontecido. Aquilo tudo me deixava fascinada, embora depois, com muito medo, voltava para casa grudada na barra da saia da mãe de tal forma que não podia o vento balançar uma folha a meu lado que eu seria capaz de me borrar toda. Alguns metidos a artistas cantavam animando a noitada da farinha. Isso, às vezes, durava dias, dependendo da quantidade de mandioca que tinha. Sempre tive a impressão que os trabalhadores, homens e mulheres de bem, faziam-se demoradas no trabalho só para a farinhada durar mais dias, ou talvez fosse só ideia boba da minha cabeça. Verdade é que eu faltava pedir para que eles fizessem isso. A infância ia passando e eu entrava numa fase interessantíssima, a fase da adolescência, das paixões, dos amores e desejos ardentes. E a farinhada acompanhava-me. Desta vez eu não ficava só ouvindo, ou brincando e já não trabalhava por prazer. Pois o que queríamos mesmo era estar lá fora a inventar poemas e paquerar um vizinho bonitinho que há tempos as meninas comentavam sobre suas qualidades. Mas nossas mães nos punham a descascar a mandioca, ficava agradável se o tal rapaz estivesse também trabalhando. No meio da conversa dos adultos ficávamos a trocar aqueles olhares comunicativos mais que palavras. E isso era bom!
Quando conseguíamos escapar de nossas mães, ficávamos lá fora sentados ou numa calçada ou numa raiz de uma enorme arvore a inventar poesias, a declamar as que já existiam, a tentar adivinhar aquelas adivinhaçõezinhas, a cantar e assim namorávamos. As mais ousadas e os ousados afastavam-se um pouco e ficavam no escurinho. De lá só ouvíamos sussurros e estalar de beijos. Nós ficávamos a rir baixinho e a vigiar. Todos nervosos, não mais que os enamorados, mas sim, também ficávamos, sobretudo quando alguma mãe soltava aquele grito chamando a filha ou o filho.
Dava-nos aquela sensação gostosa de medo e prazer. Medo de sermos pegos por nossas mães, ou pior pelos pais, e prazer por estarmos burlando as regras daquele jogo que se chamava educação familiar. Prazer por finalmente conseguirmos uns beijinhos do garoto cobiçado, ou simplesmente por estar no meio da turminha jovem.
Quando já estava no finalzinho, já tarde da noite, corríamos para dentro da casa. Era hora de dividir os bejus, cada família presente levava um beju enorme para casa, um pouco de farinha... Nós dávamos um jeito de começarmos a comer o beju logo ali.
Eu ainda gostava de ouvir as conversas dos mais velhos, gostava dos grupinhos de jovens ouvindo e criando poesias, das brincadeiras e dos namoricos, das cumplicidades e dos comentários entre as meninas e sem sombra de dúvidas dos comentários dos meninos. O triste é que ficávamos adultos com o passar do tempo e muitas meninas passavam dos sussurros e beijos estalados e tornavam-se mães e logo casavam, outras feito eu, íamos para a “cidade grande” estudar e acabávamos trocando as casas de farinha por teatros, cinemas, parques e circos modernos. Nunca pensei que aquele lugarzinho que me fazia tão feliz fosse mudar tanto. Hoje quase não se vê uma casa de farinha, quase não se vê a vizinhança reunida e as brincadeiras e namoricos foram substituídos pela virtualização. É bom retornar aquele lugarzinho de minha infância e saber que na casa de fulano, distante de casa, vai ter farinhada e melhor ainda é saber que mamãe vai e assim poder ir também. Hoje já não ficamos brincando ou sendo cúmplices de namoricos, mas ainda nos resta ouvir a conversa daqueles mais velhos que lembram como era no tempo deles.

A.R.MORAES
  

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Roncador


Foi numa dessas viagens intermináveis de Teresina a Fortaleza que me lembrei de um texto de Antonio Prata. Em seu texto, ele denominava os ônibus de prisão e, com efeito, concordo com ele.  Chega a ser impressionante o fato de passarmos horas dentro de um ônibus e às vezes sem nada a fazer. Ainda mais quando a viagem é durante a noite. Ai você me diz, caro leitor, e porque não dorme? E eu prontamente respondo que o fato de estar posicionado na poltrona de numero quarenta, próximo ao banheiro e de ter como companhia uma criatura que passa a viagem toda roncando não ajuda muito. O indivíduo do meu lado me causou espanto. Por vezes quis acordá-lo, pensei que ele estava morrendo engasgado, mas na verdade ele estava se morfoseando em todos os animais que produzem sons assustadores; bem como um porco enraivecido pedindo comida ou ainda uma onça feroz que produz o som mais assustador que se possa imaginar. Ou ainda, leitor, o som que tu estás imaginando e que eu, infelizmente, não posso descrever.  Digamos que nada me foi favorável a aproveitar a viagem dormindo e como era noite não tive a oportunidade de ir lendo (coisa que gosto de fazer quando estou em viagem) e para completar a dose, tristemente esqueci os fones de ouvido e não pude ouvir umas boas músicas, sons que me fariam bem, é claro. A sorte é que, demorou, mas ele saiu e eu continuei. Graças ao bom Deus, estou aqui relatando este episodio que me foi desagradável. A parte boa nisso tudo é que fiquei com duas poltronas à disposição e o dia já começava a raiar quando pude ver um dos mais belos espetáculos que Deus nos proporciona; os primeiros raios do sol cortando as nuvens negras. O silêncio, a calmaria e o passar do tempo diante dos meus olhos, pois os demais que estavam no ônibus nada viam, apenas em seus sonhos e sabe se lá o que eles estavam sonhando. Fiquei contente de o homem não ter morrido engasgado, mas confesso que ainda posso ouvir o roncar dele (Ops! Agora é outro da poltrona da frente substituindo o que se retirara.). Fiquei parte da viagem identificando as metamorfoses pelas quais o cidadão passava. Ora era um porco, podia-se notar com perfeição e  eu até suspeitei que alguém estava transportando um, mas isso era praticamente impossível ainda mais junto com os passageiros. Ora parecia que um sapo iria saltar da boca dele; pude identificar uma vaca mugindo, um cachorro rosnando e até uma galinha cacarejando. Parece absurdo e exagerado, mas pra quem estava com sono e era impossibilitado de dormir ou de fazer algo agradável não restava outra coisa a não ser perceber a afinidade dos sons emitidos por aquele ser de Deus com as demais criaturas do mesmo bondoso Pai.
A.R.MORAES

quinta-feira, 29 de março de 2012

O Topo



,Certa vez Ela lera, em algum livro, que o período de sofrimento é um processo de crescimento e este crescimento é o despertar da alma, uma real cura interior. Às vezes, ela sofria. Idealizava, sonhava e por vezes o sonho não passava de um devaneio, mas Ela acreditava nesse devaneio e gostava tanto da ideia que o queria tornar realidade. Mas era um devaneio... Ouvia isso de seus colegas, que não acreditavam que ela poderia tornar reais seus sonhos. Por vezes Ela quase era induzida a crer que eles tinham razão. Mas a vontade imensa de fazer a diferença tomava conta de sua alma. Sofria, é bem verdade, mas não desistia. Arregaçava as mangas e partia para a luta. Imaginava-se lutando com um ser superior, alto, forte; bem mais forte que Ela, feroz, sem coração... Porém Ela não desistia. Notava que o fato de Ela ser pequena, aparentemente frágil gerava uma possibilidade de’la se desviar dos socos, das ofensas, dos chutes... Ela entrava onde o tal ser alto, forte e feroz não conseguia. Ela passava por ele, por debaixo de suas imensas pernas. E o tal ser aos poucos se cansava. Já não tinha forças para lutar contra os desejos e sonhos daquela criatura que parecia frágil, mas não o era. Não importava o quão grande ele fosse, não importava o quão forte, feroz, aterrorizador ele fosse, Ela daria um jeito de contorná-lo, de ultrapassar todas as barreiras impostas por ele e tentar, ao menos, realizar seu desejo. Gostava de recitar outras palavras que lera em uma novela de cavalaria, “Quando o coração quer, todos os perigos são desprezados”. E Ela queria. Queria realizar seu mais ardente desejo, seu sonho mais difícil, aos olhos dos outros, de ser realizado. No entanto, lutara contra o mais aterrorizador dos seres, quem mais poderia detê-la? Fez-se frágil por fora, mas só Deus sabe a Guerreira que Ela é por dentro. O desejo, o sonho, a vontade são degraus para o crescimento e ela sabia disso, mas também sabia que teria que enfrentar muitos seres, ainda, no subir de cada degrau. A realização, a felicidade, o bem alcançado era o topo, o topo da escada que ela teria que construir. Não estava pronto. A escada não estava ali para que ela apenas subisse. Ela teria que construir sua própria escada, degrau por degrau. Não aceitava que os outros dissessem a ela que ficasse onde já estava. Ela queria mais. Dizia que não enfrentara tudo para ficar encostada ali. Embora fosse difícil, embora tivesse que enfrentar algo mais que ela desconhecia, iria ela chegar ao topo, pois não fora feita para ficar na base, não fora feita para ficar recostada nos primeiros degraus de sua escada. Queria o topo. Ah sim! O topo era sua meta. De lá teria toda a visão. Veria o mundo como ele realmente é. De lá chamaria os demais – Venham! Venham ver a beleza do mundo. Venham ver o sol raiar, a lua brilhar; venham sentir o vento perfumado (o mais puro que se pode sentir), venham ver os jardins mais belos onde as flores estão sempre encantando e perfumando. – Queria ir e com Ela Levar todos.
A.R. MORAES

sexta-feira, 23 de março de 2012

A moça da janela



Durante a tarde, ela costumava se recostar na janela e ficava olhando o céu enquanto entoava algumas notas. Seus lábios reproduziam sons belíssimos, deles saiam belas palavras que fazia o coração vibrar e a alma dar saltos de alegria. Era bom ouvir o som de sua voz. Quando ela cantava, sua alma bradava aos horizontes ou a quem a escutasse. Mas ela imaginava cantar apenas para o céu, para as arvores, pássaros e vento. Não passava por sua cabeçinha que alguém a pudesse ouvir. Recostada na janela não sentia a presença de mais ninguém. O que ela não sabia era que havia alguém que adorava olhá-la e ouvi-la cantar. Tantas vezes ele esteve escondido, recostado também na janela de seu quarto que ficava do outro lado da rua, mas a visão que ele tinha dela era perfeita. Ela não desconfiava. Não sabia que sempre no mesmo horário que ela ia à janela entoar suas notas e louvar a natureza bela, ele lá já se encontrava. Estava a esperar a bela jovem da janela. Ele a observava detalhadamente, desde os fios de cabelo soltos ao vento até o contorno de seus lábios. E quando ela cantava o coração dele ficava todo em festa. Esteve durante dias a observá-la, a se deliciar de sua bela voz, de seu perfume que o vento o levava até ele.
Certa vez, já tarde, ele a esperava ansioso por apreciar aquela beleza, mas ela não apareceu. Ele ficou até escurecer à espera da moça que tornava seu final de tarde um paraíso. Não compreendia porque ela não havia ido cantar naquela tarde. Por sua cabeça passaram tantas respostas à sua pergunta. Mas cada uma mais absurda que a outro. Desistiu de esperá-la naquele dia. Imaginou que ela não apareceria mais. Afinal já era quase dez horas da noite. E quando ele se virou para sair da janela uma voz começou a cantar. Ele não teve coragem de retornar à posição inicial, tinha medo que a bela voz sumisse. Mas necessitava vê-la, necessitava sentir o vento carregado do perfume dela esbarrar em seu rosto. E num impulso tornou à janela. Seu coração acelerava, parecia querer saltar e ir ao encontro da dona da bela voz. Ele pôs a mão sobre o peito e pedia: “Para meu coração, acalma-te!”. Ele respirava o ar perfumado que o vento lhe trazia como se fosse um alimento indispensável.
Entusiasmado com a presença da moça recostada na janela, esqueceu-se de esconder-se para que ela não notasse sua presença. Ela nunca havia percebido a presença de ninguém por detrás daquele muro. Sabia que havia uma casa, mas nunca imaginou que fosse possível alguém notá-la. Assustou-se quando percebeu o rapaz na outra janela a olhá-la risonho. Ao olhar para o lado, seus olhos estiveram de encontro aos dele por uma quantidade significativa de tempo. Seu cantar fora substituído por um silêncio e o sorriso que ele carregava por uma expressão de susto. Pensou, ele, ter estragado tudo. Ela, ao notar o constrangimento dele, quis aquietar o coração do jovem e sorriu discretamente, mas não tornou a cantar, pois o pálido de sua face fora substituído por um róseo encantador que demonstrava vergonha ao saber que alguém a escutava.
Ele queria se desculpar por ter perturbado a paz da moça, mas não se fazia ouvir, pois as palavras não saiam de sua boca. O único gesto que lhe foi possível fazer fora um acenar de mão, que ela retribuiu com um leve inclinar de cabeça. Ficaram os dois a se olharem silenciosamente. Mas se alguém por ali passasse notaria que no olhar de ambos havia um diálogo que só os que amam sabem interpretar.

Sem Caminho



“Entre a minha casa e a sua, há uma ponte de estrelas...” Estrelas lindas, que brilham radiantemente. Mas essas estrelas comuns, iguais as das noites de luar, elas são diferentes, pois seu brilho está composto pela força do amor. Todos os dias antes de dormir eu fico olhando aquela ponte e no passar da noite adormeço...
A manhã estava leve, parecia suspensa no ar. O canto dos pássaros, naquele momento fazia com que eu fechasse os olhos e por um instante me senti flutuando, com a brisa leve do vento batendo em meu rosto, acordei do meu sonho da manhã, pois lembrei que precisava visitar minha avó que morava no campo. Arrumei minhas coisas e sai.
O elevador estava com um perfume vagamente familiar, mas não conseguia lembrar a quem pertencia aquele aroma doce. Cheguei à casa de minha querida avó, como todos os finais de semana quando eu ia visitá-la. Esse não foi diferente. No final da tarde, me despedi dos meus familiares e fui embora. Quando cheguei em casa, a noite já estava alta, um bêbado passou cantando, eu observava pela janela. Como é diferente o campo da cidade, lá ar fresco, aqui poluição... Eu vou baixando a cabeça, debruçando-me naquela janela, que todos os dias me faz companhia. Penso na vida e outra vez me vem a lembrança de que tenho um compromisso. Volto ao elevador, aquela doce fragrância já havia sido abraçada pelo vento e ido embora com ele. Entro em um táxi com destino a um mundo desconhecido. Meu coração vai molemente dentro do táxi... Sem hora para chegar e sem destino, pois a vida quem faz somos nós, mas a minha está sem rumo à procura do meu amor.

Alice 
1º Ano médio

Nosso amor...

“Entre minha rua e a sua há uma ponte de estrelas”, que quem sabe nos levará ao céu.
A manhã estava leve; parecia suspensa no ar como pétalas de rosas leves a voar.
“O elevador estava com um perfume vagamente familiar” parecia ter a presença de meu amado por lá... Noite alta! Um bêbado, com fracasso, tenta cantar nossa bela canção e meu coração vai molemente dentro de um táxi na esperança de te encontrar...



Franciely Martins Silva
1º Ano médio

Meu amor não correspondido

“Entre a minha casa e a sua, há uma ponte de estrelas”, mas essas estrelas da noite nos atrapalham e é por isso que eu espero calmamente o amanhecer. Naquele dia a manhã estava leve, parecia suspensa no ar como se ela também estivesse tentando me avisar o que iria acontecer naquele dia.
O elevador estava com um perfume familiar. Era você passando por mim sem dar nem um pouquinho de atenção.  Fiquei desapontada e não via a hora da noite chegar e eu sair daquele lugar que me deixara tão triste, logo a angustia passaria e eu sairia para um boteco que ficava perto do trabalho.
Nessa noite alta um bêbado passou cantando: “você foi embora e me deixou sem se preocupar com o que eu sentia...” Fez- me lembrar daquela manhã de decepção que eu tive, era preciso que eu fosse embora e meu coração iria molemente dentro do táxi lembrando o que tinha acontecido e eu rezava para que na manhã seguinte ficasse melhor que a passada.  Eu esperava sempre por uma chance sua.
Gabriela Araujo
1º Ano médio 

quinta-feira, 8 de março de 2012

Quem sou...

Sou poetisa confusa
Perdida no mundo
Sem eira nem beira
Apenas caneta para separar meus sonhos do mundo!

segunda-feira, 5 de março de 2012

O jogador



Eu devia ter uns doze anos quando fui assistir a um jogo de futebol num campinho que ficava em frente à Casa da Tia Socorro. Era uma experiência interessante. Quando lá cheguei encontrei minha amiguinha “Ceiça”. Andávamos de um lado para outro observando o movimento. Era legal ver aqueles rostos que dificilmente víamos. Alguns nunca havíamos visto. Ao lado da casa da Tia socorro ficava um barzinho com uma sinuca que fazia a diversão dos que esperavam a bola rolar. Eu e Ceiça encontramos outras amiguinhas da escola. A Ceiça era filha da Tia Socorro, que era merendeira da escola onde nós estudávamos e todos nós a chamávamos de Tia Socorro. Estavam todos ali: Tia Dilça, professora de uma disciplina que não lembro bem; seu esposo, também professor. E o restante da nossa turma. Outros pertenciam a comunidades vizinhas que vinham assistir os jogadores movimentarem a bola e no final algum time sair com um trofeuzinho que achávamos um máximo. Ao atravessar o campo ao lado de minha amiga, observamos um jogador que estava sentado na grama colocando a chuteira. Para mim, seu rosto era desconhecido. Quando ele percebeu que passávamos, olhou para mim e riu. Logo depois disse: vou fazer um gol para você, lindinha. Aquelas palavras me assustaram. Fiquei morrendo de vergonha e quase não o dei atenção. Continuamos a atravessar o campo em direção à casa da Ceiça.
Passado algum tempo, o jogo inicia-se. A Ceiça ficou a zombar de mim por um bom tempo. Contou o ocorrido pra todo mundo que conhecíamos. Eu já estava querendo ir embora, mas ela disse-me que o jogador nem lembrava mais. Ficamos na beirinha do campo observando o jogo e torcendo por “nosso time”, segundo a Tia Socorro, tínhamos que torcer pelos garotos da nossa comunidade. O jogador que disse fazer um gol para mim pertencia ao time rival. Passou o primeiro tempo e nosso time estava ganhando de um a zero. O time rival estava eufórico, doido por virar o jogo. Terminou o primeiro tempo com nossos garotos sendo vitoriosos, mas o segundo tempo ainda estava por vir.
Tentei encontrar, com o olhar é claro, o tal jogador, mas não o vi. Nem sei se queria que meu olhar o encontrasse. Morria de medo e vergonha de ele me conhecer.
Eis que o segundo tempo começa e os jogadores na luta pelo troféu. Continuamos no mesmo lugar, alguns gritando e tentando animar nossos jogadores. Vaias ao time rival e eu silenciosa só observava o que se passava. Gostava de ver a Tia Socorro gritando e tentando animar o time. Ela tinha um filho que jogava nesse time, o Cesar. Pense como ela gritava o nome desse garoto. Era muito engraçado. Meu silencio e calma foram surpreendido com gritos dos torcedores do time rival. Houve um gol. Meu coração acelerou. Minhas pernas ficaram bambas e de repente percebo um jogador eufórico vir correndo em minha direção. Ele ria enquanto tirava a camisa e jogava como se quisesse que eu a pegasse. Quando ele estava bem próximo disse: “Lindinha, esse gol é pra você.” Isso ele falou bem alto e todo mundo dirigiu a atenção para mim. Depois ele falou baixinho como se quisesse que só eu o ouvisse: “eu não disse que faria um gol para você.”
Se fosse possível, naquele momento, eu ver meu rosto teria certeza que ele estava da cor de uma pimenta malagueta quando madura. Sentia arder. Por um instante quis cavar um buraco e me enterrar lá para que ninguém olhasse mais para mim.
Tia Socorro estava brava porque o time rival fez um gol, mas quase não se aguentou quando olhou para meu rosto. Todo mundo olhava para mim. O jogador alfinetava-me com seu olhar e sorria discretamente como se estivesse se divertindo muito com aquela situação em que eu me encontrava. Eu tentei correspondê-lo com um risinho quase impercebível e depois disse obrigada. Essas letrinhas quase não se fizeram ouvir. Logo ele saiu e foi dá continuidade ao jogo. Terminou o jogo e os times estavam com a mesma quantidade de gols. Decidiram quem levava o troféu nos pênaltis. Se minha memória não me engana, nosso time levou a melhor. E eu nunca mais vi o jogador que se esforçou para cumprir o que prometera. Esse foi o assunto na escola durante muito tempo. Todos queriam saber e eu só queria me esconder. Hoje fico contente ao lembrar do episodio. Nunca mais vi meu honrado jogador, mas guardo essa lembrança com muito carinho.     

Um dia dos namorados


Era dia dos namorados, meu primeiro dia dos namorados com alguém. E como toda garota tola e que se diz apaixonada fui comprar o tal presente que a data nos obriga. Passei a tarde toda a rodar o “shopping” à procura de um presente que pudesse representar o “amor” que eu sentia. Daí ter passado a tarde toda já se conclui o que eu sentia, ou pelo menos o que eu não sentia... Nada simbolizava o que estava se passando em meu coração, pois eu não estava amando. O fato é que depois de muito andar comprei uma camisa, um coração cheio de trufas da “Cacau show” e um cartão de chocolate escrito EU TE AMO.
Aquele cartão me fez pensar realmente no que estava acontecendo. Não era o melhor relacionamento, muito menos seria o melhor dia da minha vida. Então num desses devaneios resolvi comer o cartão de chocolate. Eu tinha razão, não o amava e ele muito menos a mim. O primeiro dia dos namorados da minha vida foi horrível, porem eu nunca fiquei tão feliz de ter engolido aquelas deliciosas palavras (literalmente e gostosamente) ao invés de tê-las dado/dito a quem não merecia. 

Conversa de ônibus

  Às vezes, os momentos e acontecimentos da vida nos parecem estranhos. Certa vez estava eu em um ônibus, indo ou vindo não sei de onde, e observava a conversa de um rapaz com uma jovem. Pareciam terem se encontrado depois de muito tempo. Falavam dos amigos em comum e uma história me chamou atenção, o modo como foi feito um pedido de casamento. Certo fulano namorava uma jovem, ambos estavam num grupo de amigos e o fulano conversava com os amigos enquanto que a jovem conversava com as amigas. O rapaz ao falar da namorada com um amigo tocou no assunto casamento e o amigo o perguntou se ele a amava e aquele respondeu que sim. Foi então que o amigo disse “então a pede em casamento.” E foi exatamente o que ele fez sem nem ao menos pensar. Mas foi um pedido bem diferente de todos que já vi. Ela ainda estava conversando com as amigas quando ouviu “Ei?!... ei doida quer casar comigo?” é claro que ela ficou sem palavras e ele continuou “Quer não?! Tudo bem!”. “Não. Não é isso. É claro que quero.” No relato do rapaz, os futuros casados se beijaram, casaram-se e até hoje, creio estarem juntos. É incrível como algumas pessoas dão muita importância aos bons momentos. É incrível que quando se ama tudo dá realmente certo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Um Poema Para Você



Tua voz é musica para meus ouvidos
Teu perfume é uma coberta para meu corpo
Teu sorriso é paz para minha alma
Como pode alguém tanto dano causar?

O tempo e a distância tentam de mim te afastar
Mas o destino teima em nos aproximar
E como uma faísca em folha seca
Faz meu coração incendiar

Brigo com meu coração que em chamas está
Procuro outros horizontes para a queimadura amenizar
Mas o cruel destino é como um abano que põe as chamas a vibrar

Foge meu coração desse fogo abrasador
O tempo e a distância logo logo põe suas armas a lutar
E novamente longe de mim ele vai ficar.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Fuga da Realidade


Era tarde, por volta das 15 horas, e ela estava lendo um livro. Se a perguntassem que livro estava lendo, qual o assunto abordado ela não saberia responder, pois lia apenas mecanicamente. De repente começou a relembrar aquela cena. Aquela cena que nunca iria esquecer.
Ela, no sofá, lendo as últimas notícias da cidade e ele sentado à mesa tentando terminar um trabalho que parecia não ter fim. Ela suspirava, já havia lido o jornal umas três vezes. Ora intercalava sua atenção nas notícias, ora nele estressado e irritado com o tal trabalho. Lá fora uma negra nuvem cobria a cidade e ventos fortes movimentavam as arvores na entrada da casa, fazendo roçarem as folhas na janela. Ela mais uma vez suspirara e tornou a olhar para ele. Começou a chover e só em imaginar as gotas de água caindo sentiu um arrepio em seu corpo e tornou a olhar para ele.
Irritado como estava, ela não ousava pronunciar uma sequer palavrinha em sua direção. Fingindo, ainda, ler o jornal; encolheu-se no sofá; sentada, praticamente, sobre as pernas. Ele já não aguentava mais, desejava deixar aquele trabalho de lado, ora por ora parava de digitar seja lá o que estava digitando e passava as mãos pela cabeça, roçava os olhos com as mãos, fechava-os e os abria de vez em quando e por um instante olhou para ela encolhida no sofá lendo aquele jornal interminável. Depois fixou seu olhar na janela, observou as gotas caindo lá fora e sentiu um friozinho. Aquele tempo fechado convidava a deitar, a ficar quieto enrolado no cobertor ou...
Bem... Ele nem queria pensar! Tornou a olhar para o monitor e a digitar. Ela não havia percebido essa pausa que ele fizera, tão pouco que ele a olhara.  Hesitou em levantar-se e ir para seu quarto; deixá-lo ali com seu trabalho. Mas com um gesto brusco, que o fez parar de digitar e se voltar para Ela, largou o jornal no chão e dirigindo-se até ele pronunciou as seguintes palavras:
“Dane-se esse trabalho!”
Aproximou-se dele, que ainda estava sentado olhando-a incrédulo, e girou a cadeira de forma que ela ficasse encarando-o. Sentou-se em suas pernas e o beijou de forma, quase que, faminta e o intimou a correspondê-la. Ele nada pode fazer a não ser corresponder. Desejava aquela mulher e tudo que ele queria estava ali, preso a ele, lábios contra lábios, cochas contra cochas.
Ele levantou-se com ela ainda em seus braços e dirigiu-se para aquele mesmo sofá, que minutos antes ela estava a suspirar. Beijava-a loucamente como se fosse o ultimo beijo de sua vida, abraçava-a e sentia o perfume que transbordava de seu corpo. Disse para si mesmo: “Dane-se o trabalho!”.
Deitou-a no sofá e... Continuou suas caricias e a amou ali mesmo, em uma tarde coberta por aquela nuvem negra que fazia cair a água mais gelada que seus corpos poderiam imaginar.
Não quiseram de mais nada saber, nem jornal, nem trabalho. Tudo que importava era aquele restante de tarde em que estavam ali, agarradinhos, se amando, se aquecendo e curtindo o barulho que a chuva fazia lá fora. Era como se aquela chuva vibrasse pela vitoria de ambos e ela pensou: “Se a mulher não ousar; perde muitos prazeres na vida!”. Provara ela que tal frase era a mais pura verdade e ria silenciosamente ao abraçá-lo, ao beijá-lo no pescoço e sentia-se completa e maravilhada com tamanha façanha.  
Trim. Trim.
Alguém na porta a chamava. Ela acordou de sua lembrança. Balançou a cabeça e percebeu que já estava na metade do livro e não sabia o que lera. Ficou tão presa a tal lembrança de um momento que nunca acontecera, mas sim de uma lembrança que ela desejava que um dia fosse acontecer.  Balançou a cabeça e foi atender a porta. Tinha que parar com esses devaneios, com esses momentos de pura fuga de sua realidade. Pensava em quanto se dirigia à porta.

 A.R.MORAES

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Para não esquecer



Estava encostada na janela e olhava as nuvens que se preparavam para deixar cair gotas de água sobre o solo que ela se encontrava. O dia começava a tornar-se noite. E ela começou a lembrar de seu passado. Ao lembrar-se dos bons momentos, se mal dizia por ter tornado-se adulta.  Lembrou-se das brincadeiras com os irmãos e vizinhos quando a chuva caia, de nada tinha medo. Corria na chuva, brincava do pega-pega, do se esconde... Mas do que mais gostava era de fazer barquinhos de folha de caderno e soltar nas pequenas correntezas que a água fazia no solo. Parecia real. Era como se ela estivesse mesmo dentro do barquinho navegando por mares nunca dantes navegados. Imaginava as mais belas aventuras e até apostava, com os irmãos e amigos, que seu barquinho de papel seria o último a afundar.
Os trovões e raios não assustavam; doenças também não a faziam temer. E o frio... Ah o frio... Era maravilhoso. E hoje, já adulta, tudo era diferente. Passou a correr, não para a chuva, mas para longe dela, como se ela fosse a morte. Passou a se esconder dentro de casa, na cama, debaixo dos cobertores como se uma gota fosse lhe causar um grande dano. E tudo era motivo de resfriado, de doenças. Pensava que se caísse na chuva os vizinhos a chamariam de doida, sem noção...
Fechou os olhos e ficou a imaginar os bons tempos que não voltam mais. Quis por um momento repetir as mesmas coisas que fazia quando ainda era criança e não se importava com que os outros iriam dizer... se ficaria doente ou não. Percebeu que ser adulta era ser fraca e não gostava da ideia de ser fraca.
A chuva já caia forte e bela. Mais parecia um chamado à aventura. Mas ela era fraca, era adulta. Não agira mais por emoção, tudo era decidido por meio da razão e ela sentiu raiva disso. Ao longe viu algumas crianças repetirem o mesmo que ela fazia, há anos atrás. E por um momento quase foi se juntar a eles, mas o medo e a razão a impedira de realizar seu desejo. Agonizava-se, pois a chuva já estava passando e com ela sua oportunidade de tornar a ser criança. Olhou para as casas dos vizinhos e percebeu que todos estavam trancafiados em suas residências, com medo de uma das mais belas obras de Deus.
Decidira. Iria sim cair na chuva. Rasgou uma folha de seu caderno e fez um barquinho semelhante ao de quando era criança. Suas mãos já não eram tão hábeis, mas ficou feliz por não ter esquecido como fazê-lo. Abriu a porta e desconfiadamente saiu na tentativa de soltar seu barquinho e correr atrás dele até onde fosse possível. Sentiu um frio arrepiar-lhe o corpo, quase desistiu, mas continuou firme em sua decisão. Sentiu as gostas caírem sobre sua cabeça. Ergueu o rosto e pode sentir uma caricia da chuva que parecia agradecer por ela ter tornado a ser criança. Viu-se como nos anos passados. Rodopiava de braços abertos, olhos fechados e rosto erguido ao céu. Agradecia, silenciosamente, por aquele momento. Correu e logo à frente encontrou uma maravilhosa correnteza e soltou seu barquinho que já estava bem molhado. Seguiu até onde não pode mais. Deixou-o ir e com ele todas as suas lembranças de quando era criança. Retornou. Com um sorriso alargando seu rosto olhou mais uma vez para o céu e deixou que a chuva acariciasse seu rosto mais uma vez. Sentiu-se bem.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Um instante



Os dias passam tão depressa...
Confusões de pensamentos pairam sobre meu ser.
Turbilhões de imagens passam em minha frente.

Uma canção, meus ouvidos sentem.                                                          
São as batidas do meu coração,
Que ora acelera, ora quase não se sabe que ainda bate.

Sol que arde e faz sentir que ainda vive.
Chuva que molha e ameniza, suaviza...
Vento que sopra onde antes foi ferido,
Terra que piso e apoio sinto.

Vida tão bela e passageira.
Vida feita de momentos.
Vida bela...
Vida que vivo.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Um breve lembrar

Ao longe um som ...
E com ele uma lembrança,
Um cheiro de terra molhada,
E uma lagrima que corta meu rosto.

É a saudade ...
Amarga e cruel que fere a alma
Que faz querer voltar o tempo,
Mas se contenta em ter ao menos ... O que lembrar!!!