quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


COMO UM ROMANCE

Foi num desses dias chatos, que por incrível que parece, percebi que o mesmo amor que tinha antes pela leitura ainda continua. E agradeço por isso. Tive que ir assistir uma aula que seria ministrada pela professora Angélica. Devo confessar que só fiquei para assisti-la porque sabia que seria ela. É impressionante como ela sabe ler. Digo: saber ler não é reconhecer as palavras grafadas. Saber ler é envolver. É sentir as palavras, é deixar-se levar por elas seja lá para onde elas te queiram levar.  E minha professora sabia fazer isso muito bem. Ainda consigo me ver sentada naquela carteira com os olhos fitos nos lábios de minha professora. Segurava meu queixo. Era provável que se não fizesse isso, minha boca ficaria aberta. É tão prazeroso ouvi-la ler. Creio que qualquer livro, qualquer texto lido por ela, sendo chato ou não, torna-se agradabilíssimo quando declamados por seus lábios.
Enquanto ela falava da disciplina, notei que segurava um livro aberto em alguma página que ela marcava com um dos dedos de sua mão. Ela não esperou que perguntássemos o porquê daquilo. Logo começou a explicar. Ela havia planejado começar a ler para nós a partir da primeira página como é de costume por quase todos. Porém ela começou a explicar por que passaria a ler daquela página. Falou-nos que certa vez, há muito tempo, assistira a um filme e uma cena a chamou bastante atenção. Uma personagem, ao ir devolver um livro para o bibliotecário, deixou-o cair. O livro caíra aberto no chão e ela de imediato pôs a apanhá-lo e quando já o ia fechar o bibliotecário interviu e disse-lhe para nunca rejeitar o que um livro tinha para lhe dizer. Achei isso um máximo. Por vezes isso acontece comigo e por muitas vezes ignorei o que alguns livros tinham para me dizer. Por causa dessa cena, ela passou a nunca mais ignorar quando um livro se abria em determinada página. Por isso ela leu exatamente o que estava escrito na página guardada por seus dedos. E de fato aquele livro tinha algo a nos dizer. Fora as palavras mais lindas que ouvi. Deixou-me com um desejo tão grande de lê-lo por completo e de imediato. Quis tanto desvendar tudo que estava ali naquelas páginas só aguardando alguém que fosse ousado o suficiente para abri-lo e ouvir o que estava guardado naquelas folhas. Como um romance era seu nome. E como um romance, desejei vivenciá-lo.  

A.R.MORAES

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