sexta-feira, 23 de março de 2012

A moça da janela



Durante a tarde, ela costumava se recostar na janela e ficava olhando o céu enquanto entoava algumas notas. Seus lábios reproduziam sons belíssimos, deles saiam belas palavras que fazia o coração vibrar e a alma dar saltos de alegria. Era bom ouvir o som de sua voz. Quando ela cantava, sua alma bradava aos horizontes ou a quem a escutasse. Mas ela imaginava cantar apenas para o céu, para as arvores, pássaros e vento. Não passava por sua cabeçinha que alguém a pudesse ouvir. Recostada na janela não sentia a presença de mais ninguém. O que ela não sabia era que havia alguém que adorava olhá-la e ouvi-la cantar. Tantas vezes ele esteve escondido, recostado também na janela de seu quarto que ficava do outro lado da rua, mas a visão que ele tinha dela era perfeita. Ela não desconfiava. Não sabia que sempre no mesmo horário que ela ia à janela entoar suas notas e louvar a natureza bela, ele lá já se encontrava. Estava a esperar a bela jovem da janela. Ele a observava detalhadamente, desde os fios de cabelo soltos ao vento até o contorno de seus lábios. E quando ela cantava o coração dele ficava todo em festa. Esteve durante dias a observá-la, a se deliciar de sua bela voz, de seu perfume que o vento o levava até ele.
Certa vez, já tarde, ele a esperava ansioso por apreciar aquela beleza, mas ela não apareceu. Ele ficou até escurecer à espera da moça que tornava seu final de tarde um paraíso. Não compreendia porque ela não havia ido cantar naquela tarde. Por sua cabeça passaram tantas respostas à sua pergunta. Mas cada uma mais absurda que a outro. Desistiu de esperá-la naquele dia. Imaginou que ela não apareceria mais. Afinal já era quase dez horas da noite. E quando ele se virou para sair da janela uma voz começou a cantar. Ele não teve coragem de retornar à posição inicial, tinha medo que a bela voz sumisse. Mas necessitava vê-la, necessitava sentir o vento carregado do perfume dela esbarrar em seu rosto. E num impulso tornou à janela. Seu coração acelerava, parecia querer saltar e ir ao encontro da dona da bela voz. Ele pôs a mão sobre o peito e pedia: “Para meu coração, acalma-te!”. Ele respirava o ar perfumado que o vento lhe trazia como se fosse um alimento indispensável.
Entusiasmado com a presença da moça recostada na janela, esqueceu-se de esconder-se para que ela não notasse sua presença. Ela nunca havia percebido a presença de ninguém por detrás daquele muro. Sabia que havia uma casa, mas nunca imaginou que fosse possível alguém notá-la. Assustou-se quando percebeu o rapaz na outra janela a olhá-la risonho. Ao olhar para o lado, seus olhos estiveram de encontro aos dele por uma quantidade significativa de tempo. Seu cantar fora substituído por um silêncio e o sorriso que ele carregava por uma expressão de susto. Pensou, ele, ter estragado tudo. Ela, ao notar o constrangimento dele, quis aquietar o coração do jovem e sorriu discretamente, mas não tornou a cantar, pois o pálido de sua face fora substituído por um róseo encantador que demonstrava vergonha ao saber que alguém a escutava.
Ele queria se desculpar por ter perturbado a paz da moça, mas não se fazia ouvir, pois as palavras não saiam de sua boca. O único gesto que lhe foi possível fazer fora um acenar de mão, que ela retribuiu com um leve inclinar de cabeça. Ficaram os dois a se olharem silenciosamente. Mas se alguém por ali passasse notaria que no olhar de ambos havia um diálogo que só os que amam sabem interpretar.

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