sábado, 15 de outubro de 2011

Escolhas

“Como é possível ser livre e não aproveitar?” – Era essa a pergunta que ela se fazia. Os amigos a convidava para saírem, mas ela sempre inventava uma desculpa. Tudo se resumia a ficar trancada o final de semana em casa. Até quando tudo isso duraria? – Sentia-se só, mas não queria estar com ninguém. Revia seus atos e às vezes imaginava-se repetindo todos os erros do passado. Lembrara-se de uma frase que lera num livro – Se o homem não tem nenhuma escolha ele deixa de ser um homem [...] – Ela podia escolher, tinha opções, porém negara a si essa liberdade. Não escolhia ficar trancada e só, apenas agia por instinto. Assim iam passando horas, dias, meses e anos.
Como podia estragar sua preciosa e curtíssima vida daquela forma? Por que não aproveitar a flor de sua juventude, que passa e não retorna? São momentos que devem ser aproveitados sem receio de erros, sem se importar se está sendo boba ou “pagando mico”. Ela tentava, sabia de tudo isso, porém era privada de sua própria liberdade. –Por quem? Não sabia. Era provável que por ela mesma. Mas essa possibilidade ela não notava, também não ficava procurando alguém para culpar.
Não entendia, apenas não compreendia por que cargas d’água ela não aproveitava o presente que Deus havia lhe entregue às mãos: a juventude passageira, a beleza natural, a força de uma jovem, jovem e bela! Ela tinha escolhas. Por que não as usava? Por que não abusava delas? Por que não vivia cada momento como se fosse o ultimo de sua vida? E se dissessem a ela que eram seus últimos momentos faria diferença? Talvez sim; talvez não. Vai saber...
Era sábado e ela tinha muito que fazer, porém nada quis realizar naquele dia. Entupiu seus ouvidos com o fone de ouvido e ficou a ouvir Beethoven no mais alto som que pode. Repetiu varias vezes “Fur Elise”. Não entendia porque aquele som a agradava. Fechava os olhos e esquecia o mundo ao seu redor. Ora sentia uma enorme vontade de gritar, ora de silenciar. E assim ficou; deitada no chão ouvindo Beethoven e sentindo fortes emoções em seu peito que insistira em não negar-lhe o desprazer. 

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